Eduardo Lourenço - "eu falo de mim em todos os textos"

 





“Todos os meus livros são de circunstância, ou antes, são-me impostos. De resto já só escrevo de empreitada: fulano vai fazer uma conferência a tal parte, é preciso que eu escreva, eu escrevo. Senão não escrevia nada. Nunca teria nenhum destes textos. Nunca me quis servir dos autores. Hesitei durante muitos anos em escrever Pessoa Revisitado, nunca me quis servir de Fernando Pessoa para fins escolares. Podia ter feito uma tese, há imensas por aí que são apresentadas, curriculadas e tal. Mas nunca. É que a minha relação com Pessoa… Encontramos os autores com este sentimento de que fomos roubados, de que fomos já vividos, de que fomos consumidos anteriormente. Por conseguinte, experimentamos um sentimento de fascínio e, ao mesmo tempo, quase de terror diante de gente que nos parece tão parecida connosco por dentro, não é? E isso é inutilizável. É como se eu… Vem daí o próprio facto de eu não ser capaz de falar de mim. A minha maneira de falar de mim é falar através de Fernando Pessoa ou de outro autor com quem eu tenho afinidade. Na verdade, eu falo de mim em todos os textos. Tanto me faz que seja sobre política, literatura, ou qualquer outra coisa. […] Cada um dos assuntos por que me interesso daria para ocupar várias pessoas durante toda a vida. Por isso como não possuo vocação heteronímica, tenho procurado encontrar um nexo entre as minhas diversas abordagens da realidade. No fundo é a procura de um só tema. E, de facto, se virmos bem, o fio condutor do que venho fazendo, e procuro ainda fazer, é uma reflexão constante sobre o Tempo. Ou melhor, a temporalidade.”

In Diário de Notícias, 21/3/1998.



Dois dos títulos disponíveis na Biblioteca


    O LABIRINTO DA SAUDADE
    Eduardo Lourenço
    Gradiva
    184 Páginas

"Somos, enfim, quem sempre quisémos ser. E todavia, não estando já na África, nem na Europa, onde nunca seremos o que sonhámos, emigrámos todos, colectivamente, para Timor. É lá que brilha, segundo a nova ideologia nacional veiculada noite e dia pela nossa televisão, o último raio do império que durante séculos nos deu a ilusão de estarmos no centro do mundo. E, se calhar, é verdade."



    AS SAIAS DE ELVIRA E OUTROS ENSAIOS
    Eduardo Lourenço
    Gradiva 2006
    148 Páginas



«O enigma de Eros transcende o campo e o imaginário da chamada civilização ocidental. Mas só o triunfo do Cristianismo, na sua versão pauliniana e agustiniana, fez desse enigma uma leitura que condicionou a expressão e a prática dos nossos rituais éticos, sociais e eróticos, tornando-os consubstanciais à nossa versão de existência como drama de Salvação. Desde há dois mil anos que ‘as saias de Elvira’ alimentam o ‘vaudeville’ divino da nossa ficção dividida entre Eros e Cristo.»


 📌 Conheça o Projeto Eduardo Lourenço, da Universidade de Évora




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