Dar voz às palavras

 


A LEITURA ACRESCENTA!
 
 
 
 
💠💠💠 
 
 Podcast "Eu e Anne Frank"


 
 💠💠💠 
 
 
 Escola a ler Eugénio de Andrade
19 de janeiro de 2023

 
 20 poemas | 43 turmas | 852 alunos | 43 professores
 
 
 💠💠💠
 
 Podcast | Até amanhã, de Eugénio de Andrade
 


 
 
 💠💠💠 
 
Escola a ler contra a violência de género | aLeR+2027
 
 

Foto: Solve Sundsbo (Noruega)
 
 5 poemas | 43 turmas | 852 alunos | 43 professores
 

 
💠💠💠 
 
Escola a ler Agustina | aLeR+2027
4 de novembro de 2022
 
 
 
 
    6 textos | 43 turmas | 852 alunos | 43 professores
 
 

 
 
 
 💠💠💠 
 
Escola a ler Saramago - Leituras Centenárias | aLeR+2027
 16 de novembro
 
 
43 turmas | 852 alunos | 43 professores
 

 
 
 
A celebração do centenário Saramago foi também contemplada no Plano de atividades da Rede de Bibliotecas de Vila Real e contou com o apoio do Pelouro da Educação do Município de Vila Real.
 
Alunos da ES Camilo Castelo Branco leem textos de Saramago

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
💠💠💠
 
Celebrar José Saramago | Leituras centenárias 2
16 de novembro 


Vasco Miguel da Silva Petiz Varandas Guedes é o aluno que representou a ES Camilo Castelo Branco na leitura em linha do dia 16 de novembro, promovida pela Fundação José Saramago em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares e o Plano Nacional de Leitura. 
 
 
💠💠💠
 
Podcast : Saramagueando
aLeR+2027
 
 
 Saramagueando 
 

Celebrar José Saramago | Leituras centenárias
Leitura de excertos do Memorial do Convento e d' O ano da morte de Ricardo Reis pelos alunos de 12º ano da ES Camilo Castelo Branco, Vila Real
Iniciativa do Departamento de Línguas Românicas e Clássicas e da Biblioteca Escolar.
#100saramago


💠💠💠














Leitura coral do poema "Não posso adiar o amor", de António Ramos Rosa, pelos alunos do 7º C.

Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa


💠💠💠















Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão
Poema lido pelo João, do 7º A

💠💠💠




💠💠💠




No Dia Mundial da Poesia, em Educação Especial, alunos do 8ºB, 9ºC e 9ºG leram o poema "Cantata da paz", de Sophia de Mello Breyner, acompanhados pelos docentes Benjamim Valadares e Margarida Lemos.


💠💠💠











Ana Afonso, do 11º D, lê "Cantata de paz", de Sophia de Mello Breyner . 


💠💠💠

António Mourão, do 11º D, lê "Ser poeta é ser mais alto", de Florbela Espanca.

💠💠💠




Matilde Gonçalves, do 11 D, lê "Doutor eu tenho uma guerra tremenda dentro da minha cabeça", de António Amaral Tavares.


💠💠💠

"Retrato de Vitoria, Princesa Real", por Franz Xaver Winterhalter (1857)

No Dia Mundial da Poesia, Maria Carvalho, do 11º D, lê "Retrato de uma princesa desconhecida", de Sophia de Mello Breyner 

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino

💠💠💠

Lília Santos lê “Não só quem nos odeia ou nos inveja”, de Ricardo Reis


Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afectos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.

💠💠💠


Semana da leitura 2022
 
 
 
  PNL2027 Rosário Alçada Araújo lê O Sábio que Sabia Tudo, de José de Lemos
 

PNL2027 / Gi da Conceição lê As Aves não têm Céu, de Ricardo Fonseca


💠💠💠



Leitura de um excerto de Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, pelo Guilherme, 7º A.
 
 
💠💠💠
 
Diálogos -  O  Sermão de Santo António aos Peixes e Papalagui


 🔊

Leitura de extratos do Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira, em diálogo com a leitura de Papalagui.

Trabalho realizado pelos alunos do 11ºC, com a coordenação do professor João Pinto.


💠💠💠
 
 
 
 
 
A Daniela Carvalho, do 11º I, partilhou a gravação áudio do poema Agapefobia com o Podcast da Camilo:
 

 
 
💠💠💠
 
Não te amo mais, de Clarice Lispector
 
 
 
 
Este poema pode-se ler de cima para baixo ou de baixo para cima, por isso é que é um poema tão engraçado e especial!
 
Podem ouvir a leitura deste poema pelo Dinis, aluno do 11º I, no Podcast da Camilo "Dar voz às palavras": 
 
 
 

💠💠💠
 
 
Em confinamento | Dia da leitura em voz alta
 
 
 

Vídeo, gravado na aula de História do 8ºB, pelo professor Álvaro Pinto.
Uma aluna em confinamento leu um extrato do “Diário de Anne Frank”.


💠💠💠

Podcast: Calçado Fresco









💠💠💠

"Faz-me o favor", de Mário Cesariny


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!

Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor - muito melhor!-
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

 Aceda ao QR Code e ouça o poema lido pela Margarida Costa, do 11º D:

 

  

 Audiotexto "Faz-me o favor" 


💠💠💠

Blues da morte de amor





já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal não morri, como se vê, ah não
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes. uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete:- morrer ou não morrer, darling, ah, sim.


Vasco Graça Moura



💠💠💠

Podcast: Do livro para o ouvido





💠💠💠


Podcast: 10 Minutos a ler do 11º I




💠💠💠
 
 Mulher, de Ary dos Santos




MULHER

A mulher não é só casa
mulher-loiça, mulher-cama
ela é também mulher-asa,
mulher-força, mulher-chama

E é preciso dizer
dessa antiga condição
a mulher soube trazer
a cabeça e o coração

Trouxe a fábrica ao seu lar
e ordenado à cozinha
e impôs a trabalhar
a razão que sempre tinha

Trabalho não só de parto
mas também de construção
para um filho crescer farto
para um filho crescer são

A posse vai-se acabar
no tempo da liberdade
o que importa é saber estar
juntos em pé de igualdade

Desde que as coisas se tornem
naquilo que a gente quer
é igual dizer meu homem
ou dizer minha mulher

Ary dos Santos



💠💠💠

Recordações do Futuro, de Siri Hustvedt

 
Leitura de um excerto pela professora Fernanda Botelho


💠💠💠

Podcast: Que nome lhe vamos dar?

 
Podcast do 10º F, realizado no âmbito do 10 Minutos a Ler
2021


💠💠💠

Podcast: Efeitos de Natal
  
 
 

💠💠💠

Um conto de Natal, de Miguel Torga


 

💠💠💠
   
Somente um dia de cada vez, texto de Patrícia Silva
 
 
 Leitura de Patrícia Silva, 10º I
 
 
💠💠💠
 
 
Conto "O homem", de Miguel Torga


Conto lido por alunos do 7º F



💠💠💠
 

Regresso, de Miguel Torga


S. Martinho da Anta: Na Senda de Miguel Torga+S. Martinho da Anta
Imagem: Wikiloc. S. Martinho da Anta: Na Senda de Miguel Torga
🔊


Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram.
Mal eu surgi, cansado, na distância.

Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.

Miguel Torga


💠💠💠


Miniatura, de Miguel Torga

     Poema lido por FAN, 9ºD. Imagem: Anne Derenne

Coimbra, 11 de abril de 1957

Pois eu gosto de crianças!
Já fui criança, também…
Não me lembro de o ter sido;
Mas só ver reproduzido
O que fui, sabe-me bem.

É como se de repente
A minha imagem mudasse
No cristal duma nascente,
E tudo o que ou voltasse
À pureza da semente.

Miguel Torga, in Diário VIII, 1959


💠💠💠


Confiança, de Miguel Torga


Uvas, Core-Menos Preciosas Uvas De Mesa, Frutas, Maduro
Poema lido por Gustavo, 9º D. Imagem: Pixabay



O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...

Miguel Torga


💠💠💠



Agenda, de Miguel Torga


Calendário, Agenda, Anotações, Agendamento
     Poema lido por João e Lara, 9ºD. Imagem: Pixabay

🔊



Folheio a vida
Num calendário velho.
Dias riscados, como contas pagas.
Domingos de repouso,
Segundas de trabalho
Sábados de cansaço,
Sem nenhum sentido.
No abismo do nada,
O nada, apenas.

Quem sofreu nestas páginas vazias,
Tão frias,
Tão serenas?

Miguel Torga, in Diário X

💠💠💠


Brinquedo, de Miguel Torga

Poema lido por Sara, 9º D. Imagem: Graham Franciose



Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

Miguel Torga

💠💠💠


Súplica, de Miguel Torga


Pessoa, Masculino, Homem, À Procura, Sessão, Parede
 Poema dito por José Afonso, 9º D. Imagem: Pixabay



Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti, como de mim.

Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga, in Câmara Ardente

💠💠💠


Rimance das sete meninas diferentes, de Carlos Alberto Silva



  





Havia sete meninas
Comendo sete romãs,
Todas sete tão diferentes,
Mas todas elas irmãs.

Uma loira, outra morena,
Outra da cor do limão,
Uma da cor da castanha,
Outra negra de carvão,

Uma rubra como o sol,
Outra parda como a lua,
Todas sete de mãos dadas,
Cantando as sete na rua:

- O que importa a cor da pele
Se é o amor que nos sustem?
Sendo as sete tão diferentes,
Nós sete nos queremos bem.


💠💠💠





Levava eu um jarrinho, de Fernando Pessoa






Levava eu um jarrinho
Levava eu um jarrinho
P’ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P’ra comprar pão;
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p’ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Para ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.


s.d.



Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973).

- 118-119.
“Poemas para Lili”


💠💠💠


Tentei fugir da mancha mais escura, de David Mourão-Ferreira



     Poema dito por Nuno Teixeira, 12º G | Imagem: Pixabay






Tentei fugir da mancha mais escura

que existe no teu corpo, e desisti.

Era pior que a morte o que antevi:

era a dor de ficar sem sepultura.


Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão...

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.




💠💠💠





Adeus, de Eugénio de Andrade





A imagem pode conter: planta, ar livre e natureza
Poema dito por Beatriz Azevedo, 12º G | Imagem Pixabay




Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.




💠💠💠





Green God, de Eugénio de Andrade



Eugéio de Andrade por Eugénio de Andrade



Trazia consigo a graça

Das fontes quando anoitece.

Era um corpo como um rio

Em sereno desafio
Com as margem quando desce.
Andava como quem passa
Sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos,
Cresciam troncos dos braços
Quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.

E desfolhava ao dançar

O corpo que lhe tremia

Num ritmo que ele sabia
Que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,

Porque era um deus que passava.

Alheio a tudo o que via,

Enleado na melodia
De uma flauta que tocava.
 Eugénio de Andrade, As Mãos e os Frutos


💠💠💠



  A ordem do tempo, de Carlo Rovelli (extrato)







Bertrand.pt - A Ordem do Tempo



Leitura de um extrato de "A ordem do tempo", de Carlo Rovelli






Carlo Rovelli nasceu em Itália, em 1956. É físico teórico, professor universitário, investigador e autor de vários livros. Tem-se dedicado à gravidade quântica, mas também à história e à filosofia da ciência. Colabora com vários meios de comunicação social, incluindo o Corriere della Sera e o La Repubblica. Em 2019, foi incluído pela revista Foreign Policy numa lista dos 100 pensadores mais influentes do mundo.



💠💠💠





Imagem: Pixabay

Celebrar Torga por ocasião da evocação dos 25 anos da sua morte.
Leitura do conto "Farrusco", de Bichos. Aula de Matemática. Turma D, 8º ano.





FARRUSCO 

Dentro da poça do Lenteiro, há rãs. Naquela água coberta de agriões e de juncos moram centenas delas. Mas à volta, na sebe de marmeleiros, silva-macha e alecrim, vive Farrusco, o melro. Sabe-se isso desde que, em certo entardecer de Agosto, a Clara perguntou ao cuco que se pousara num pinheiro em frente: 

- Cuco do Minho, cuco da Beira: quantos anos me dás de solteira? 

A rapariga era toda ela de se comer. E o cuco, maroto, olhou de lá, viu, e respondeu: 

- Cucu... Cucu... Cucu... 

Três anos! A moça ficou varada. O Rodrigo acabava a tropa de aí a dias, e prometera levá-la à igreja logo a seguir. Que significava, pois, semelhante demora? Aflita, chegou-se à Isaura, a alcoviteira, mouca como um soco, que a seu lado sachava milho, e gritou-lhe aos ouvidos, desesperada: 

- Ora vê?! Que lhe dizia eu? A Isaura nem queria acreditar. 

- Ouvirias mal!... 

- Olhe lá que não ouvisse! Contei-os bem. 

E foi então que Farrusco soltou a sua primeira gargalhada. Coisa bonita! Uma cascata de semicolcheias escaroladas, como se alguém rasgasse um pano cru, rijo e comprido, no silêncio da tarde serena, que o desânimo de Clara enchera subitamente de melancolia. Nada mais do que isso. Mas o bastante para mudar o sinal do desencanto. A força virgem daquele riso chamou a vida à consciência dos seus direitos. De parada, a natureza animou-se. Uma aragem muito branda e muito fresca atravessou o espaço. Tudo quanto era mundo vegetal ondulou levemente. A própria terra, sonolenta do calor do dia, acordou. £ de aí a segundos começou a maior sinfonia que se ouviu no Lenteiro. 

Chamadas por aquela volatina, as rãs subiram à tona de água e puseram-se a dar força sonora às tímidas vozes ocultas e anónimas que se erguiam do limbo. Às rãs, juntaram-se logo, pressurosos, os ralos, as cegarregas, os grilos, e quanta arraia miúda tinha fala. A esta, a passarada. Até que não ficou bicho sensível e solidário alheio ao Tantum Ergo pagão. Um coro imenso, cósmico e fraterno, que enchia o mundo de confiança. 

Clara, arrastada pela onda de harmonia, apelou da sentença: 

- Cuco do Minho, cuco da Beira: quantos anos me dás de solteira? O que foste fazer! O malandro do pitoniso, se há pouco fora cruel, desta vez requintou. 

- Cucu... Cucu... Cucu... Cucu... 

Parecia uma ladainha! A lengalenga não parava mais. Ou de propósito, ou porque o mundo, naquele instante, era um orfeão aberto, o ladrão dava mais anos de solteira à rapariga do que estrelas tem o céu. 

Desapontada, a cachopa regressou às ervas daninhas do lameiro. E, num amuo justificado, deixou correr as horas. A seu lado, comprometida, a Isaura, que tinha garantido o noivado a curto prazo, falava, falava, sem conseguir adoçar-lhe no espírito o fel da desilusão. E quando a noite se aproximou disposta a selar com negrura aquela tristeza humana, foi preciso que Farrusco, novamente solidário com os direitos da moça, saltasse da espessura da sebe para o cimo de um estacão, e fizesse ressoar pelo céu parado e quente uma segunda gargalhada. Discordância de tal maneira fresca, sadia, prometedora, que a rapariga ganhou ânimo. Pôs os olhos em si, na força criadora das margaridas abonadas, no ar de coisa sã que toda ela ressumava, e sorriu. Depois, confiante, juntou a sua alegria à alegria do melro. Soltou então também uma risada cristalina, que partiu da verdura do milhão, passou pelas penas luzidias de Farrusco, e foi bater como um castigo no ouvido desafinado do cuco. Um segundo a natureza esteve suspensa daquela gargalhada. A vida homenageava a vida. Depois continuou tudo a cantar. 

- O estafermo do cuco, tia Isaura! Até um melro se riu!... 

- Riem-se de tudo, esses diabos... 

Mas o lusco-fusco começava a empoeirar o céu, e Farrusco ia fechando docemente os olhos, deitado na cama dura. A vida que lhe ensinara a mãe, simples, honesta, espartana, não lhe consentia luxos de noitadas. Pela manhã, ainda o sol vinha lá para Galegos, já ele tinha de estar de perna à vela, pronto para comer a bicharada da veiga, e rir de novo, se alguma tola de Vilar de Celas se fiasse outra vez no aldrabão do cuco.

TORGA, Miguel, "Farrusco". Bichos. Planeta de Agostini. 2003.




💠💠💠


Brasil, de Miguel Torga


Minas Gerais, Brasil. Imagem: Pixabay






Evocação dos 25 anos da morte de Miguel Torga.
Contributo da turma G do 11º ano, através da voz da aluna Maria Marques.










Brasil
onde vivi,
Brasil onde penei,
Brasil dos meus assombros de menino:
Há quanto tempo já que te deixei,
Cais do lado de lá do meu destino!

Que milhas de angústia no mar da saudade!
Que salgado pranto no convés da ausência!
Chegar.
Perder-te mais.
Outra orfandade,
Agora sem o amparo da inocência.

Dois pólos de atração no pensamento!
Duas ânsias opostas nos sentidos!
Um purgatório em que o sofrimento
Nunca avista um dos céus apetecidos.

Ah, desterro do rosto em cada face,
Tristeza dum regaço repartido!
Antes o desespero naufragasse
Entre o chão encontrado e o chão perdido.

Miguel Torga



💠💠💠



Conquista, de Miguel Torga



Imagem: Pixabay




Evocação dos 25 anos da morte de Miguel Torga.
Contributo da turma F do 11º ano, através da voz da aluna Margarida Vilela.





Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

TORGA, Miguel, Cântico do Homem, 1950.



💠💠💠


Letra Pequena | Trava-Línguas









💠💠💠








Supernova, de Jorge de Souza Braga





Supernova. Imagem: HypeScience






Uma estrela quando morre
morre tão devagar
que não se lembra sequer
de que chegou a brilhar

Mas nem todas as estrelas
morrem dessa maneira
Há quem antes de morrer
Brilhe pela vida inteira


💠💠💠💠



Os poetas, de Sophia de Mello Breyner Andresen




O poeta, de Marc Chagall (1911)






Solitários
pilares dos céus pesados,
Poetas nus em sangue, ó destroçados
Anunciadores do mundo
Que a presença das coisas devastou.
Gesto de forma em forma vagabundo
Que nunca num destino se acalmou.


Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)


💠💠💠💠









O anjo caído, de Almeida Garrett

Era um anjo de Deus
Que se perdera dos céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.

O anjo caiu ferido
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem esplendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.

Vi-o eu, n anjo dos céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia
E só lágrimas beber.

Ninguém mais na terra o via,
Era eu só que o conhecia
Eu que já não posso amar!
Quem no havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora vivo enterrar?
Loucura! Ai, cega loucura!

Mas entre os anjos dos céus
Cantava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo,
Daquela infâmia salvá-lo
Só força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?

Eu só, – e eu morto, eu descrido,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus,
E o meu ser se dividia,

Porque ela outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai! tarde o conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ele à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também o infeliz morreu.

Almeida Garrett (1799-1854)


Comentários