+ Leitur@s | Memórias do Cárcere





Autor: Camilo Castelo Branco
Título: Memórias do Cárcere
Editor: Parceria A. M. Pereira
Edição ou reimpressão: 2011

ISBN: 9789728645700
Livro recomendado pelo PNL para o Ensino Secundário como sugestão de leitura


Sinopse

Memórias do Cárcere é um dos mais célebres livros escritos por Camilo Castelo Branco. Como o título indica, procede das recordações do escritor relativas a um ano da sua vida, de 1 de Outubro de 1860 a 16 de Outubro de 1861, durante o qual esteve preso na Cadeia da Relação do Porto, suspeito do crime de adultério com a sua amada Ana Plácido, assunto considerado muito sério pelos costumes e leis da época.

Em reclusão, o autor narra os crimes dos outros, rasurando o seu, fazendo assim avultar na narrativa os efeitos emocionais da condenação. Esses companheiros, cada qual com sua história, seu carácter, e sua relação especial com o respetivo crime, desfilam no livro, no que o próprio escritor designou como “quadros” e a presença do rei, que o visita, no desfecho do texto, permite a relação de circularidade com o início do romance. Assim, vida e literatura entrecruzam-se tanto mais proficuamente quanto se integra a literatura na vida.


Excerto

Não estranhei o ar glacial e pestilento, nem as paredes pegajosas de humidade, nem as abóbadas profundas e esfumeadas dos corredores, que me conduziram ao meu quarto.

Em 1846 estive eu preso ali, desde nove até dezasseis de Outubro. Foram sete dias de convivência com sujeitos conversáveis, que entraram comigo, ou poucos dias antes, por cúmplices na contrarrevolução, baldada pela captura do senhor Duque da Terceira. Fora então eu companheiro de quarto um correligionário de MacDonnell, filho de Braga, excelente criatura, que me emprestou cinco cruzados novos, quando me viu desbaratar no jogo os últimos cobres de dez moedas, que eu levava para matricular-me no primeiro ano jurídico. Ganharam-me as dez moedas umas pessoas de grave aspeto, que, segundo ouvi, eram alegadamente graduadas nas coisas da república, e muito conversáveis, como já tive a honra de dizer.

No termo de sete dias deixei esta amorável companhia, e esqueci depressa o episódio dos meus vinte e dois anos. Quando, porém, contemplo uma filha que tenho, ainda me lembro dele. Hei de levá-la uma vez à cadeia, e dizer-lhe: ‘Tua mãe esteve naquele quarto.’ Esta lição em silêncio, no limiar do mundo, há de aproveitar-lhe mais que a Introdução à Vida Devota, ou os exercícios espirituais das irmãs da caridade.

O que eu estranhei, à segunda vez que entrei na cadeia, foi a gente que vi. Eram pessoas de má sombra, e olhar desconfiado.

Camilo Castelo Branco (2011). Memórias do Cárcere. Lisboa: Ed. Parceria A.M. Pereira


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