Prémio Nobel da Literatura 2020

 


© Katherine Wolkoff


As cartas estão lançadas: Louise Glück ganhou o prémio Nobel da Literatura 2020. Há semanas que se especulava em torno dos nomes passíveis de receber a maior das distinções, e o seu nome foi uma surpresa face à lista dos que se consideravam favoritos. Surpresa foi também o facto de ser entregue a uma poeta, já que os romancistas têm historicamente sido os mais assíduos contemplados.

O Comité Nobel destacou "a voz poética inconfundível que com uma beleza austera torna a existência individual universal", salientando que não se deve encarar Louise Glück como uma "poeta confessional", na medida em que “procura a universalidade e inspira-se também em mitos e temas clássicos".

Nascida em Nova Iorque, em 1942, Louise Glück é neta de judeus húngaros emigrados nos Estados Unidos. Estudou na Universidade de Columbia mas uma anorexia nervosa grave impediu-a de se graduar, levando-a a envolver-se numa terapia que durou sete longos anos. Em compensação, frequentou os cursos de poesia do Sarah Lawrence College e os workshops ministrados em Columbia para estudantes não convencionais. Léonie Adams e Stanley Kunitz foram dois dos professores e poetas que mais a influenciaram.

Foi secretária, casou-se e divorciou-se, e nesse ano de 1968 estreou-se com a obra "Firstborn", que a tornou rapidamente numa das mais aclamadas poetisas da literatura contemporânea americana. Ensaísta e poeta, é também professora na Universidade de Yale. Desde cedo referiu a marca da psicanálise no seu trabalho de escrita, além da inspiração de Rainer Maria Rilke e Emily Dickinson. Publicou 14 livros de poesia e dois de prosa. Entre os prémios recebidos estão o Pulitzer, o National Book Award e o Bollingen. Este ano, venceu também o Prémio Tranströmer.

Louise Glück, de 77 anos, a 15ª mulher a receber um Nobel da Literatura, foi uma decisão imprevista da Academia Sueca, e outros nomes circulavam como sendo os favoritos. Estes eram os da russa Ludmilla Ulitskaya, o keniano (e já veterano nesta lista) Ngugi wa Thiong’o, a autora oriunda de Guadalupe Maryse Condé, as canadianas Margareth Atwood e Ann Carson, o japonês Haruki Murakami, o espanhol Javier Marías e o sul-coreano Ko Un.

O prémio Nobel de Literatura é um dos mais aguardados dos Nobel. Este ano, a pandemia de covid-19 determinou que alguns dos eventos presenciais em Estocolmo fossem cancelados e substituídos por uma abordagem digital. Do mesmo modo, os prémios irão ser entregues às embaixadas em vez de diretamente aos escritores.

Em 2019, o austríaco e controverso Peter Hanke foi o seu depositário. Nesse ano, a polaca Olga Tokarczuk recebeu o galardão correspondente a 2018, ano em que a entrega dos prémios foi cancelada devido a um escândalo que envolveu o marido de um dos membros da Academia Sueca, o fotógrafo francês Jean-Claude Arnault, acusado de assédio sexual a 18 mulheres e de divulgar antecipadamente alguns dos escritores na corrida para o prémio.

2017 foi o ano do nipo-britânico Kazuo Ishiguro e 2016 o de Bob Dylan, o único músico de sempre a vencer o Nobel de Literatura. Em 2015, a bielorrusa Svetlana Alexievich arrebatou-o, nos antípodas do francês Patrick Modiano, que o tinha ganho um ano antes.

Ao todo, o Nobel de Literatura foi outorgado 112 vezes a 116 laureados entre 1901 e 2019. Este ano, o valor pecuniário do prémio será ligeiramente superior ao do ano anterior: 10 milhões de coroas face aos 9 milhões previamente atribuídos.

Luciana Leiderfarb. Expresso, 8 de setembro de 2020


                                                          Poema de Louise Glück

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