Centenário do nascimento de Saramago

 




O designer espanhol Manuel Estradado concebeu duas versões para o logo do centenário do nascimento de José Saramago. A primeira, apenas tipográfica, chamada pelo criador de “o logo principal”, insere o numeral cem na palavra Saramago para cria uma imagem que “diz tudo o que tem que dizer” com a simples fusão das palavras Saramago 100.

Estrada explica que começou a desenhar o logo a partir dos dois zeros contidos no número cem. “É um numero que está cheio de significado, cem anos é um século e um marco. Os dois zeros são como os olhos abertos da criança descrita nas Pequenas Memórias de José Saramago”. Os olhos de José Saramago sempre estiveram muito abertos para ver o mundo, para descrevê-lo e para mudá-lo.”

A segunda versão utiliza a letra S, inicial do nome do escritor, sugerindo a partir dela uma cabeça com os olhos muito abertos. “Uma letra S que olha através do 100”, explica Estrada.

Embora tenha concebido uma versão colorida do logo, Estrada sugere que a imagem a preto e branco seja a mais difundida - “Não devemos esquecer, é melhor que as coisas importantes sejam escritas a preto e branco, como nas páginas de um livro. Sobretudo agora que vivemos num mundo cheio de ruído e de imagens que dizem menos do que prometem, exatamente o contrário do que a literatura faz”.





No dia 16 de novembro deste ano, data em que José Saramago completa 99 anos, a Fundação José Saramago dará início às comemorações do centenário do escritor. O programa de atividades, que se estenderá por todo o ano de 2022 e alguns meses de 2023, será revelado em breve. 

Agora, para além do logo, a FJS publica um texto sobre o Centenário, de Carlos Reis, Comissário para o programa.


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José Saramago: 100 anos 

Assinala-se a 16 de novembro de 2022 o centenário de José Saramago. Tal como em circunstâncias semelhantes acontece com outros grandes vultos, a efeméride constituirá uma oportunidade privilegiada para a consolidação da presença do escritor na história cultural e literária, em Portugal e no estrangeiro. E também para se prestar homenagem à sua figura como cidadão.

Aquela consolidação envolve a revisitação de uma atividade literária e cívica que marcou a cena portuguesa e internacional durante décadas, mas que vai além disso; inclui-se nela a afirmação de uma obra com uma vitalidade inquestionável, bem como a acentuação do pensamento social, político e ético de José Saramago. E também o que desse pensamento ressoa no nosso presente. A Carta dos Deveres e das Obrigações dos Seres Humanos sintetiza, pelo seu espírito e pelos seus efeitos, muito do legado saramaguiano.

A atribuição do Prémio Nobel da Literatura confirmou uma consagração internacional que fez de José Saramago uma personalidade com grande significado, para além das fronteiras de Portugal. Assim, Saramago define-se hoje como um “escritor do mundo”, com presença expressiva em manifestações artísticas, educativas, políticas e sociais com vasta disseminação e efeitos variados. Incluem-se nesses efeitos os que decorrem da presença da obra saramaguiana no nosso sistema de ensino e na difusão da língua e da cultura portuguesas no mundo.

Em articulação com outras entidades, a Fundação José Saramago está a preparar um amplo programa de evocação do centenário, distribuído por quatro eixos: o eixo da biografia, dando atenção ao trajeto biográfico, formativo e cívico do escritor, em relação com a sua produção literária; o eixo da leitura, entendendo-se o centenário do escritor como momento adequado para se revigorar a leitura da sua obra e também para conquistar novos leitores, desejavelmente jovens; terceiro, o eixo das publicações, tanto no plano das obras evocativas, de divulgação ou de extensão transliterária, como no das edições ilustradas, com iconografia do escritor e da sua obra; o eixo das reuniões académicas, uma vez que José Saramago é um escritor com forte presença na academia, em Portugal e no estrangeiro, motivando reuniões científicas em diferentes locais.

Pode antecipar-se desde já que o centenário de José Saramago desencadeará iniciativas de entidades muito diversas, em Portugal e noutras partes do mundo. Nesse contexto, a Fundação José Saramago (FJS) assumirá o papel central que lhe cabe, respeitando, evidentemente, a autonomia dos atores e das instituições que venham a dar contributos próprios ao centenário.

Carlos Reis
Comissário para o Centenário de José Saramago




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