O nascimento
Existem ritos e rituais, celebrações e festividades que convocam o espírito inventivo dos designers
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No mundo do design aprendemos que os artefactos que nos rodeiam para além de cumprirem funções e nos trazerem soluções, estão embebidos em simbologia e significado. Transportam neles informação sobre a espécie humana, revelam os nossos desejos e medos. A semiótica dos objectos às vezes surge de um gesto propositado, desenhado assim pelo designer; muitas das vezes é construída pelos milhares de utilizadores, que lhe vão dando mais e mais sentidos. E existem ritos e rituais, celebrações e festividades que convocam o espírito inventivo dos designers — mas também dos consumidores — em redor desta possibilidade de criarmos uma narrativa através dos artefactos.
Natal, a palavra em si, vem do latim natalis, que significa “relativo ao nascimento”. Para os cristãos está associada ao nascimento de Jesus Cristo, para os pagãos, no início do tempo, era uma celebração dedicada anualmente ao Deus Sol durante o solstício de Inverno. Celebrava-se a luz, o fim do Inverno, os dias maiores e quentes que estariam por vir. Os romanos antigos faziam a Saturnália, na qual trocavam presentes e alternavam de papel social. Com a Igreja Católica, durante o século III, a data ganha outro sentido, e a fixação do Natal no dia 25 de Dezembro é decisão do imperador romano Constantino (272-337), marcando a celebração da festa do Sol de Roma.
Na minha lista de artefactos de Natal estão as velas, as mesas e as cadeiras altas, as toalhas bordadas; estão panelas, tachos e colheres de madeira, galheteiros de azeite, copos de vidro claro, estão as camas, as alcofas de bebés, porque sempre houve crianças, e um piano, um Bechstein. As mantas para os que adormecem, as folhas de papel colorido, as bolas e as estrelas, sacos de papel vazios e depois cheios e depois vazios outra vez. Está o relógio de pé e os sinos, ligados à véspera, à espera e à contagem. E sim, o presépio.
Guta Moura Guedes. Expresso Semanário#2617, 23 de dezembro de 2022
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