Escola a ler Eugénio de Andrade | Partilhas 2

 



Registo áudio de algumas das partilhas de leituras realizadas no passado dia 19 de janeiro, no Escola a ler, no âmbito da celebração do centenário do nascimento de Eugénio de Andrade.



Até amanhã, de Eugénio de Andrade 

















Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

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Poema lido pelos alunos do 8ºA: 
Bernardo Garcia, Clarisse Correia, Daniel Costa, Diogo Barreira, Eva Afonso, Filipa Costa, Filipa Lameirão, Guilherme Machado, João Fraga, Pedro Martins e Santiago Cardoso


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As amoras, de Eugénio de Andrade















AS AMORAS

O meu país sabe às amoras bravas no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.


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Poema lido pelas alunas do 8º C: Beatriz Pinto, Carolina Alves, Joana Montes e José Brites

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Poema à mãe, de Eugénio Andrade











POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:

          Era uma vez uma princesa

              no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


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Poema lido pelas alunas do 8º CAnita Alves, Bernardo Eira, Diana Marques, Diogo Baptista, Diogo Bento, Diogo Catarino, Guilherme Cunha, Gonçalo Simões, João Borges, Maria Braz, Rafael Figueira, Matilde Minhava, Maria Coutinho e Ricardo Silva.

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Poema lido por Joana Pereira, do 9ºD


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Urgentemente, de Eugénio de Andrade











É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,

É urgente permanecer.


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Poema lido pelos alunos do 8º CAna Silva, Gustavo Pires, José Dias, Luana Maio e Margarida Honrado.


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Coração habitado, de Eugénio Andrade















Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.

E amanhece.


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Poema lido por Rodrigo Fonseca, do 9º D.


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Madrigal, de Eugénio Andrade



Tu já tinhas um nome, e eu não sei

se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.


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Poema lido por Rodrigo Fonseca, do 9º D.




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