Leitura | W.B.Yeats - Onde vão morrer os poetas

 


Quem era W.B. Yeats, o poeta a quem nunca falou um onde







W. B. Yeats

ALICE BOUGHTON


“W.B. Yeats — Onde Vão Morrer os Poetas” é um romance biográfico de Cristina Carvalho que o situa no centro das suas raízes: o surgimento de uma Irlanda independente

RUI LAGARTINHO

N

os desenhos biográficos de que Cristina Carvalho se tem ocupado em anos recentes, Selma Lagerlöf, Ingmar Bergman ou August Strindberg, tão importante como o mergulho nas suas vidas é o enquadramento paisagístico onde se sente o vento, se cheira a maresia e se alcançam horizontes longínquos sobre promontórios. No caso de William Butler Yeats (W. B. Yeats), não poderia ser diferente. Quando a autora nos apresenta o poeta da Irlanda, saltamos da praia de Sligo para o planalto de Bem Bulben. Entre colinas e planaltos, Yeats “escreveu poesia com pena de fogo dentro de si”. É atrás deste fogo que o livro avança, pretendendo desaguar nessa terra misteriosa e talvez inalcançável — o sítio “onde os poetas vão morrer”. Mas, antes, como é óbvio e se canta no Messias de Händel, a child is born. Abordar a personalidade de alguém que morreu há quase noventa anos, coroado de glória e reconhecimento terreno — em 1923 W. B.Yeats recebeu o Prémio Nobel da Literatura — permite olhar para a forma como a obra e o poeta nos interpelam. E aí percebemos como este homem, involuntariamente e sem nenhuma estratégia, esboçou desde cedo a sua eternidade.

Em cada poema há sempre um sentido cósmico para a vida, seja na contemplação de uma paisagem infinita seja na vontade de avançar nessa aventura desafiadora que é uma floresta. Sem esquecer o contexto histórico, o surgimento de uma Irlanda independente — pois o que seria de nós sem uma pátria que nos interpelasse? Amores e desencantos comezinhos que, se quisermos ser sinceros, nunca poderemos definir como eternos, embora passemos a vida a fingir o contrário. Procurando traduzir a voz do poeta através do que escreve, diz Cristina Carvalho: “Sou e não sou. Sou forte e sou fraco; amigo e inimigo; amante; crítico, bom e mau; apaixonado e odiento. Sou tudo no todo de um dia. Ninguém sabe o que é o céu nem saberá. Nunca. O céu sou eu.”

Expresso Revista, Semanário#2629, de 17 de março de 2023









W.B. YEATS — ONDE VÃO MORRER OS POETAS
Cristina Carvalho
Relógio D` Água, 2023, 162 págs.

Comentários