Revista de Ciência Elementar | out-dez 2023

 



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 Já está disponível a edição outubro-dezembro 2023 da Revista de Ciência Elementar.


Vale a pena ser Professor Cooperante? 

Novembro de 2022: “no próximo ano haverá cerca de 1.500 estagiários, entre finalistas de licenciaturas em Ensino Básico e de mestrados em ensino” (Ministro da Educação João Costa à Agência Lusa). Em setembro de 2023 seriam portanto necessários 500 a 750 Professores Cooperantes para a missão de os orientar. E eles responderam positivamente, apesar de tudo… A pergunta que se impõem: vale a pena ser Professor Cooperante? 

Num contexto de crescente necessidade de Professores Cooperantes, aqui ficam alguns dados/reflexões: 

(i) a falta de docentes evidenciada ao longo dos últimos anos tem como solução a chegada de novos docentes ao Ensino Básico/Secundário. Para “melhorar a atratividade da carreira docente estão previstas medidas de valorização salarial, progressão na carreira, remuneração dos estágios e reconhecimento do trabalho do Professor Cooperante na sua carga letiva” (Ministro João Costa). Entretanto, continua a ser importante haver, e há de facto, Professores Cooperantes nas Escolas que desempenham a sua missão de forma altruísta; 

(ii) o número de alunos a concluir graus académicos conducentes à carreira de Professor tem aumentado devido, exatamente, a reconhecerem o nicho de oportunidade que se foi criando ao longo das últimas décadas neste mercado de trabalho. Dadas as incertezas do mundo atual, a aposta na profissão ganha novo impulso com a chegada de novas gerações. Estamos preparados para a sua chegada?; 

(iii) “o papel do Professor Cooperante como elemento fundamental da supervisão pedagógica na formação inicial de professores assume-se numa perspetiva de trabalho colaborativo como suporte do processo” (Rodrigues et al., 2016). O resultado prático destas interações no âmbito da indução a uma profissão são experiências de aprendizagem mútua. E aqui se inicia a lista de privilégios que não estão previstas em documentos legais, mas reportada em alguns estudos (inter)nacionais: o prazer de ensinar a profissão a “puras esponjas” ávidas de saber e orientação. Em troca recebe-se parte da energia vital que os move e nos contamina com ideias, intenções e projetos (e.g., Ganser, 1996; Ingerson et al., 2011); 

(iv) pedagogicamente, as funções do professor cooperante incluem: informar, questionar, sugerir, encorajar e avaliar no sentido formativo (Vieira, 1993 in Lopes, 2019). Dados recentes indicam que os Professores Cooperantes consideram ter perfil adequado à função (Leite et al., 2023), revelando, no entanto, a necessidade de construção de uma relação mais sólida com as Instituições de Ensino Superior v) o papel do Professor Cooperante reveste-se de extrema importância na lógica de uma engrenagem composta por três peças (a tríade referida por Hart, 2020, ilustrada na FIGURA 1). 



FIGURA 1. Representação da visão integradora do papel de cada interveniente
 da tríade Professor-Cooperante, Estudante/Futuro Docente, Professor do Ensino Superior. 




Note-se ainda a presença de alguns intervenientes “satélite” que garantem o funcionamento da engrenagem. Faltando uma, simplesmente não funciona. São necessários mais e mais Professores Cooperantes para a tal missão do verbo “ajudar” (sensu Alarcão e Tavares, 2007) no último ano de formação dedicado a socialização profissional e construção de identidades (Albuquerque, 2007); 

(vi) se nos focarmos apenas nas regalias práticas, pode eventualmente não compensar. Os professores cooperantes persistem por dedicação, para criar legado, transmitindo algo que não tem preço quantificável: a sua experiência de anos/décadas; 

(vii) propostas alternativas de benefício, outorgadas pelas Instituições de Ensino Superior podem ser uma realidade. Entre elas, pode incluir-se conferir aos Professores Cooperantes redução de propinas para formação pós-graduada ou acesso livre a biblioteca/cantinas/informação digital; 

(viii) testemunhos reais: “Com a supervisão de estágios, esperam dar e receber formação (…) num processo de construção comum de conhecimentos. (…) Referem mais vezes a sua própria aprendizagem que a dos estagiários.” (in Guedes et al., 2011). 

Estas são as regras do jogo. Jogamos? 

Como nota final, gostaria de agradecer aos orientadores e mentores que dedicaram longas horas durante o meu percurso. Valeu bem a pena! Todas as referências citadas ao longo do texto estão disponíveis na versão completa do artigo. 

Editorial. Rute Coimbra, Universidade de Aveiro
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