Exposição | O neorrealismo literário português

 






Inspirado pelas teorias marxistas do materialismo histórico e dialético, divulgada nos meios políticos e intelectuais portugueses em meados dos anos 30, o movimento cultural do Neo-Realismo começa a desenhar-se a partir de importantes polémicas literárias então publicadas em periódicos como O Diabo, Sol Nascente e, alguns anos mais tarde, a revista Vértice, que afirmavam uma veemente oposição ao subjetivismo presencista, ao defenderem uma “arte útil” virada para os problemas reais da sociedade, fazendo assim a rutura com o ideário romântico e positivista do século XIX. Na verdade, as condições político-sociais de uma década marcada não só pela crescente oposição entre fascismo e comunismo, como pelos ecos de sofrimento da Guerra Civil Espanhola e o início da II Guerra Mundial, exigiam a uma nova geração de escritores maior intervenção cívica e cultural, solidarizando-se desde logo com os desígnios progressistas da esquerda europeia, desde a Revolução Russa à Front Populaire, em França, ou à defesa da ética republicana, em Espanha.

Neste contexto, obras como Ilusão na Morte (novelas, 1938) de Afonso Ribeiro, Sinfonia da Guerra (poemas, 1939) de António Ramos de Almeida, ou logo depois Gaibéus (romance, 1939) de Alves Redol, Rosa dos Ventos (poemas, 1940) de Manuel da Fonseca, e Esteiros (1941) de Soeiro Pereira Gomes, vêm reforçar uma nova tendência na literatura portuguesa, traduzida desde cedo por um forte espírito engagée, isto é, politicamente empenhado na transformação das condições sociais do País, desenvolvendo temas como os conflitos de classe, a elevação moral dos oprimidos ou a esperança no futuro do Homem, identificando-se assim, de imediato, com o movimento de oposição ao regime salazarista do Estado Novo.

[...] o Neo-Realismo pode ser hoje observado, com distanciamento e objetividade, como um dos mais importantes movimentos culturais que o nosso País conheceu ao longo do século XX. Desenvolvendo-se num momento extraordinário de viragem político-social em termos internacionais, que vai dos anos 30 ao pós-guerra, redefinindo coordenadas de ação e pensamento, ao desenhar uma nova e intensa dicotomia entre o sistema capitalista e a hipótese comunista, o Neo-Realismo significou entre nós uma espécie de projeção artística das ambições políticas e sociais de uma parcela significativa da oposição portuguesa. Se outro valor não tivesse, o ímpeto de liberdade que subjaz a toda a criatividade neo-realista chegaria para fazer deste movimento um marco decisivo da nossa memória coletiva mais recente.

O que é o Neorrealismo? (n.d.). Retrieved from https://www.museudoneorealismo.pt/o-que-e-o-neorrealismo-86



👉 A exposição sobre o Neorrealismo literário Português, cedida pelo Museu do Neorrealismo, de Vila Franca de Xira, pode ser visitada na ES Camilo Castelo Branco até ao próximo dia 23 de fevereiro.










Neorrealismo - Para além da literatura

Movimento essencialmente de expressão literária, o Neo-Realismo português teve nas artes plásticas um momento de eufórica utopia, como afirmação voluntária de uma nova geração que aí se ancorava no intuito de contribuir para a prometida mas nunca concretizada democratização do regime. Destacam-se nomes como Júlio Pomar, Manuel Filipe, M. Ribeiro de Pavia, Lima de Freitas, Cipriano Dourado, Vespeira, Rogério Ribeiro, Querubim Lapa, Alice Jorge e José Dias Coelho.


Querubim Lapa, Costureiras, 1949
   

Júlio Pomar, Descanso, 1949





A aproximação do cinema ao Neo-Realismo foi protagonizada, ao longo da década de 50, por nomes como Manuel Guimarães e Leão Penedo, que acabaram também por influenciar o aparecimento do Cinema Novo Português.







No teatro, particularmente silenciado pelo Estado-Novo,  destacam-se como principais autores da dramaturgia neorrealista nas suas diferentes fases nomes como Luiz Francisco Rebello, Romeu Correia, Alves Redol, Pedro Serôdio e Bernardo Santareno.





Na música, e excetuarmos a vasta produção de Fernando Lopes-Graça, única personalidade musical associada de forma coerente ao neorrealismo, ocupou um lugar marginal no Neo-Realismo português. 






Acordai (Lopes Graça / José Gomes Ferreira por Lisboa Cantat)


                                                                                                                         Abril depois de Abril


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