Ciberjornalismo

 


ZAMITH, Fernando, et al., coord., 2024. Ciberjornalismo




O desenvolvimento acelerado das tecnologias da comunicação e da informação nas últimas décadas virou do avesso paradigmas associados ao modo como os cidadãos se informam sobre o que se passa e participam na res publica. Os primeiros grupos de discussão da Usenet, o nascimento e expansão da blogosfera e depois o tsunami das redes sociais são marcos evolutivos incontornáveis nesta curta, mas sobremaneira intensa, história das novas plataformas ao serviço da liberdade de expressão. Em paralelo, o (ciber)jornalismo procurou adaptar-se às flutuações imprevisíveis dos hábitos de consumo noticioso e de participação de um público que se foi atomizando a uma escala sem precedentes. Um desafio imenso, portanto. Neste contexto, o tempo ajudou a identificar algumas tendências gerais que deixam margem para algumas interrogações. Do lado do consumo de informação jornalística, assistimos, sobretudo nas duas últimas décadas, a uma progressiva desvalorização do trabalho produzido por jornalistas profissionais, trabalho esse historicamente marcado por valores como o rigor, a isenção, a imparcialidade e a objetividade, constituintes daquilo a que alguns autores, como Mark Deuze, chamam a «ideologia do jornalismo». Dito de outro modo: o apreço de muitos cidadãos por notícias «profissionais» já terá sido bem maior no passado. Os internautas parecem preferir agora o consumo rápido e curto de títulos, perdidos no meio dos scrolls infinitos das redes sociais, sem olharem à proveniência e assinatura do que leem e rapidamente partilham. Eis aqui um dos maiores desafios que o ciberjornalismo enfrenta: como (re)conquistar públicos, sobretudo os mais jovens, cada vez mais dispersos, fluidos, desconcentrados, polarizados e assoberbados de escolhas possíveis? 

Estas novas tendências de consumo informativo são o caminho mais curto para abrir alas à produção e disseminação de notícias falsas, à promoção de «factos alternativos» e à «viralização» de narrativas propositadamente construídas com o objetivo de manipular os cidadãos. A força de fenómenos como as «fake news» e a «pós-verdade» estão aí para o ilustrar. Neste tipo de ambiente, a degradação da qualidade da dieta noticiosa do cidadão torna-se inevitável, o que não deixará de ter consequências na forma, e na qualidade, com que exerce a sua cidadania. A polarização extremada de opiniões em sociedades democráticas é disso um exemplo preocupante. Não por acaso, nunca se falou tanto como hoje de «crise da democracia» e de «ameaças ao sistema democrático». Por coincidência, talvez nunca se tenha falado tanto em «crise do jornalismo» e «ameaças à liberdade de imprensa». 

Foi com este pano geral de fundo que a organização do VII Congresso Internacional de Ciberjornalismo partiu para a discussão destas e muitas outras importantes questões, com vários oradores convidados a enriqueceram o debate com estudos, proposições, perspetivas e análises multifacetados. Este e-book contém o que de mais importante foi abordado e discutido.

Helder Bastos, Introdução, pp. 5-6


ZAMITH, Fernando, et al., coord., 2024. Ciberjornalismo: Cidadania, Novas Formas de Participação e Novos Desafios. Porto: CITCEM. 104 pp. eISBN: 978-989-8970-77-0. Porto, julho de 2024 (1.ª edição)

Comentários