Exposição | Fragmentos da figura humana - Diálogos com...

 






A representação do olho humano no desenho vai além da simples anatomia, refletindo a complexidade da visão, perceção e emoção.

O olho, muitas vezes é visto como a "janela da alma", simboliza tanto a capacidade de ver quanto de sentir e compreender o mundo. Ao desenhar um olho, o artista procura capturar a singularidade e a história de cada indivíduo, transmitindo uma ampla gama de emoções.

José Saramago, na sua obra "Ensaio sobre a cegueira", oferece uma reflexão sobre o olhar, enfatizando que ele é mais do que um ato físico; é uma forma de reconhecimento e conexão com o outro. A perda da visão provoca uma reflexão sobre a verdadeira percepção, sugerindo que o olhar vai além da visão física e se torna uma metáfora para compreensão e empatia.

Assim, o olho no desenho torna-se uma ponte entre o artista e o espectador, possibilitando um diálogo emocional que revela a profundidade da experiência humana. Tanto na arte quanto na literatura, o olhar é uma ferramenta poderosa na exploração da condição humana.
Profa Alcina Gonçalves, coordenadora do projeto




A representação do olho humano e o diálogo com José Saramago

Os trabalhos dos alunos do 12º F e G, atualmente em exposição na Biblioteca da Escola, transcendem o mero exercício técnico da disciplina de Desenho. Ao abordarem a representação do olho humano, eles abrem um diálogo sensível e profundo com a obra Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, em particular com a provocação contida na frase: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

O olho humano, como elemento central das composições, não é apenas uma forma anatómica. Ele é um símbolo da perceção, da consciência e, acima de tudo, da capacidade humana de ver além do visível. Nesta exposição, os alunos mostram-se não apenas como aprendizes de arte, mas como pensadores críticos, ao explorarem a tensão entre o que é visto e o que é percebido. A frase de Saramago desafia-nos a olhar para além da superfície e reparar no essencial — um convite que cada obra parece ecoar.


Aspetos técnicos e simbólicos 



Sob o ponto de vista técnico, os trabalhos impressionam pela diversidade de abordagens. Alguns desenhos destacam-se pela precisão dos detalhes, como a reprodução minuciosa das texturas e reflexos do íris, das pálpebras e dos cílios, sugerindo um estudo atento da forma. Outros optam por interpretações mais livres e abstratas, onde o olho se torna um elemento metafórico.

Os elementos composicionais usados pelos alunos — como o jogo de luz e sombra, o uso do contraste e a escolha das cores (ou sua ausência, em alguns casos) — acrescentam profundidade emocional às obras. Um olho desenhado em tons sombrios pode sugerir a cegueira emocional ou o vazio, enquanto outro, vibrante e detalhado, pode simbolizar a nitidez de uma consciência desperta. 

Diálogo com a literatura

A relação entre os desenhos e Ensaio sobre a Cegueira é instigante. O romance de Saramago trata da perda da visão não apenas no sentido literal, mas também como uma metáfora para a alienação e a falta de empatia que permeiam a sociedade contemporânea. Da mesma forma, os trabalhos expostos parecem indagar: que tipo de cegueira nos afeta hoje? Que verdades deixamos de reparar mesmo quando olhamos para elas?

Reflexão final

Esta exposição vai além do âmbito escolar e apresenta-se como um convite à reflexão sobre o nosso próprio olhar. Estamos a ver o mundo ou apenas a olhar para ele? Estamos a reparar no que realmente importa? Ao explorarem o potencial do desenho como ferramenta de expressão e questionamento, os alunos colocam-se como criadores de uma arte que é tanto visual quanto concetual.

Que cada visitante desta exposição se permita reparar, tal como os alunos o fizeram ao criar, no poder que há em cada olhar representado, pois, como nos lembra Saramago, o ato de reparar é, em última instância, uma forma de resistir à cegueira coletiva.


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